Evolução da alimentação Humana


    A evolução da alimentação humana desde os tempos do Homo primitivo até aos nossos dias é baseada no estudo dos fósseis do género Homo. Esse estudo paleontológico centra-se na forma e dentição dos maxilares, indo ao ponto de analisar a quantidade de esmalte dentário e a forma da coroa dos molares. Também se analisam os restos fossilizados de animais que serviram de alimento ao homem das cavernas. Neste último caso incluem ossos e até conchas de animais marinhos e, neste caso, em Portugal são célebres os concheiros de Muge que datam do Mesolítico.
   Como não podia deixar de ser, o homem primitivo, tal como qualquer outro animal, alimentava-se individualmente do que conseguia caçar e de plantas silvestres, vivendo só dos recursos naturais. Dependia das condições climatéricas, das secas e das inundações. Era um colector puro. 
    Com o passar de milénios, já no Neolítico, o homem aprendeu a domesticar os animais passando a depender da pastorícia, sem necessidade das longas e por vezes perigosas excursões de caça. Fazia já uma alimentação comunitária. Ao tornar-se sedentário e com a aparição da agricultura, a sua alimentação melhorou, porém continuava dependente das calamidades naturais, normalmente climatéricas, por não saber armazenar e conservar os alimentos.
     A paleontologia humana mostra curiosamente que a melhoria na qualidade da alimentação acompanhou um crescimento evolutivo do cérebro. Todos os australopitecos estudados apresentavam características esqueléticas e dentais estruturadas para processar alimentos vegetais duros e de baixa qualidade energética. Certamente ingeriam carne ocasionalmente, tal como os chimpanzés de hoje, e estudos em membros mais antigos do gênero Homo sugerem que o Homo ancestral consumia menos matéria vegetal e mais animal.
    Quando se estuda a evolução humana surge a pergunta: o que terá empurrado o Homo para uma maior qualidade dietética, necessária ao crescimento cerebral? Terá sido a mudança ambiental ? Ao que hoje se sabe, os Hominídeos surgiram na África e a crescente aridez da paisagem africana limitou a quantidade e variedade de alimentos vegetais comestíveis e também de animais. Aqueles seres que na linha evolutiva deram origem aos robustos australopitecos desenvolveram modificações anatômicas que permitiram a subsistência com alimentos de mastigação mais difícil, porém em maior disponibilidade. O Homo erectus desenvolveu a primeiro sistema de comunidade baseado na caça e coleta, em que os recursos eram compartilhados entre os membros do grupo. A adição de pequenas porções de comida animal à dieta de frutos e outros vegetais, combinada com a divisão dos recursos que é peculiar dos grupos de caça e colecta, teria significantemente aumentado a qualidade e estabilidade da vida dos hominídeos. Uma melhor qualidade dietética, por si só, não explica por que os cérebros dos hominídeos cresceram, mas parece ter desempenhado um papel crítico na eclosão daquela mudança. 


     Um dos momentos cruciais na evolução da alimentação do homem foi o controle do fogo durante o período Paleolítico, há cerca de 2,5 milhões de anos . Não se sabe exatamente quando os precursores do Homo sapiens deixaram de consumir alimentos tal como ficavam quando os caçavam e colectavam. Descobertas arqueológicas em cavernas da China fazem supor que o homem de Pequim, (250 mil e 500 mil anos atrás), já utilizava o fogo para se aquecer e cozinhar carnes e vegetais . Esses são os primeiros sinais de que o homem procurava modificar os alimentos que consumia, sendo isso muito visível no período Neolítico.   
  Ao perceber que carnes e vegetais cozidos duravam mais tempo, passou a usar o processo. Com a defumação, pela exposição das carnes e peixes à fumaça resultante da queima de madeira e carvão, fazia-se a desidratação, criando nos alimentos uma capa protectora para durar mais. 
     Na Europa, a partir da Idade Média, criou-se o hábito de comer carne de porco e para a conserva, parte era salgada, parte defumada e o restante usado no preparo de enchidos. Supõe-se que a primeira forma de salga consistia em enterrar os produtos da caça na areia da praia, para que o sal do mar penetrasse nos alimentos. 

    Na Antiguidade, fenícios, egípcios e gregos secavam peixes para poderem transportá-los com segurança. No entanto, a história mostra que o hábito do sal para preservar alimentos vem quase sempre combinado com a exposição ao sol e daí o hábito, presente até há poucos anos em Portugal, da salga do bacalhau realizada ao ar e ao sol. Na Mesopotâmia, por volta de 2000 a.C, os peixes eram abertos e conservados em salmoura a que por vezes se juntavam ervas aromáticas, tão ao gosto dos romanos . E quem fala de peixe, fala de carne, por exemplo a de bovino, ainda hoje assim preparada no Brasil, a célebre carne de sol. A utilização de baixas temperaturas para a conservação de alimentos também se perde na história. Foi no período Neolítico que o homem descobriu que a carne de caça e os vegetais guardados em locais frios se conservavam por mais tempo. Assim, o homem pré-histórico depositava seus alimentos nas partes mais escuras e frescas das cavernas. Hoje usamos os gigantescos armazéns frigoríficos, os porta contentores refrigerados e até aviões de carga com porões refrigerados pelas baixas temperaturas que existem nas altas zonas da atmosfera.
     Após um grande estímulo inicial no crescimento do cérebro, a dieta e a expansão desse órgão provavelmente interagiram em sinergia; cérebros maiores produziram comportamento social mais complexo, o que conduziu a outras estratégias em tácticas de obter alimento e a uma melhor alimentação que, por sua vez, fomentou a evolução adicional do cérebro, como afirmam alguns estudiosos, a evolução do Homo erectus na África, hà 1,8 milhões de anos atrás, marcou a terceira viragem na evolução humana: o movimento inicial dos hominídeos para fora da África em busca de mais alimentos. 
   A evolução da alimentação provocada pelo êxodo foi muito lenta, e a prova do que afirmamos é que, milhares de anos depois, a população da Europa ainda não conseguia saciar a fome, para já não falar na China onde, até à primeira metade do século XX, raramente havia um ano sem fome. 


    
   Ainda hoje ela não desapareceu da Ásia, da Indonésia, da África e de alguns países da América do Sul. Mas felizmente, exceto quando há calamidades ou guerras, as grandes fomes absolutas parecem estar em vias de desaparecimento, embora muitas populações sofram ainda de subalimentação, como acontece nos países subdesenvolvidos. 

    Em entreposto, as crises de fome acabaram nos países considerados desenvolvidos, desde que as máquinas agrícolas fizeram a sua aparição e vieram permitir uma cultura intensiva do solo. 
     Transportes rápidos, adubos químicos, irrigação, selecção de plantas e animais, combate aos parasitas agrícolas por meio de insecticidas químicos, criação da indústria das conservas, da indústria do frio, tudo isso transformou a alimentação humana. Esta transformação foi ainda acelerada pela industrialização da produção agrícola. Poucos produtos são hoje consumidos sem preparação industrial: legumes e frutos, carne, peixe, ovos, leite. 
    A maior parte dos outros (e até parte destes) é preparada industrialmente, tratada por meios mecânicos, esterilizada pelo calor ou por raios ultravioleta, congelada, perfumada, colorida, purificada por produtos químicos, pasteurizada, destilada. A ciência química cria cada vez mais elementos de síntese, em particular produtos vitaminados.      A introdução da química na alimentação trouxe vários perigos com o uso dos adubos químicos, dos pesticidas e dos aditivos.
    Se é verdade que os adubos químicos vieram possibilitar maior rendimento das colheitas , a verdade é que a qualidade dos alimentos piorou pois estes produtos alteram a qualidade dos alimentos, são incapazes de restaurar integralmente os solos e contribuem em grande escala para a poluição das águas, quando são arrastados pelas chuvas para os rios.
  O DDT que em tempos foi muito usado como insecticida é hoje reconhecido como inconveniente. Este veneno absorvemo-lo nós juntamente com os legumes, o leite, a carne, os frutos, os cereais etc. Os insecticidas penetram na polpa dos vegetais e misturam-se na seiva. Os vegetais ao serem ingeridos pelos animais, acumulam-se na sua gordura e voltam a estar nos produtos alimentares de origem animal que nós ingerimos.
     Muitos dos animais destinados ao abate recebem uma alimentação química que lhes eleva rapidamente o peso. Entre esses produtos, estão antibióticos e sulfamidas e, na criação industrial de aves de capoeira, hormonas femininas sintéticas. Estes produtos não são destruídos pela cozedura e muitas dessas hormonas vão dar origem às dioxinas, que são cancerígenas.


  Também no número extremamente elevado de aditivos que são usados, alguns são cancerígenos. Até o alimento dos pobres, o pão, não foge às influências nefastas da modernização. Há ainda cem anos, o homem podia alimentar-se quase exclusivamente de pão. Hoje não o poderia fazer porque o seu valor alimentar diminuiu e ele já não é um alimento completo e fiável. Em primeiro lugar porque os trigos de grande rendimento que se cultivam agora são ricos em amido mas pobres em glúten e sais minerais, para já não falar no seu cultivo onde são usados adubos e pesticidas químicos. Até a substituição das velhas mós de pedra pelos cilindros de aço veio proporcionar uma produção maior e de uma farinha mais branca, sem as impurezas que coloriam ligeiramente a farinha e eram constituídas por substâncias nutritivas preciosas, (fósforo, cálcio, magnésio, ferro, silício, iodo, manganésio) e vitaminas B e E. 



                                                                                                                      Joaquim .Nogueira 






http://wwwnovas.blogspot.com.br/2010/10/evolucao-da-alimentacao-humana.html

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUTRIÇÃO - Tabela de Calorias dos alimentos mais servidos em nossa mesa

História - Jogo da Memória

ANÁLISE DO FILME - O Dia Depois de Amanhã